Sucessão de seres imaginários

Volto ao Gabinete para os receber em catadupa, em primeiro o Industrial Septentrionalis, um animal nervoso, que enrola as patinhas curtas uma na outra e faz mesuras desmedidas, deferente, que recua a cada palavra que profere, como quem pede desculpa por existir, é uma espécie inofensiva, que se dá por satisfeita só de estar perante mim, que há de contar durante anos, lá aos da sua matilha, sobre aquele dia mítico em que esteve com o Senhor Ministro, depois entra o BulDozeR ConsTrucToR com o seu pêlo puxado a trás com gel, arrastando atrás de si os seus projectos milionários de Villas e campos de golfe, de seguida a sussurrante Hárpia Culturalis, cheia de ideias irrealizáveis e por fim, já na penumbra do sol posto, o furtivo Lupus Argentarius, um animal intimidante, dissimulado, couraçado de diamantes, que se mexe com um à vontade surpreendente e que à noite vende dinheiro a juros no alto de uma escadaria de cristal. A todos recebo com acenos de cumplicidade e solidariedade pela desventura, a todos respondo que sim, que vou avaliar a situação, quando na verdade não vou fazer rigorosamente nada. E assim se passaram três dias